

Discurso proferido por Ossanda Liber na Conferência 'Italian Conservatism:
Il futuro dell'Europa'.
Roma, 29 de Setembro de 2023.
A convite da Fundação Tatarella, da Nazione Futura e da revista The European Conservative, a Ossanda participou na conferência ‘Italian Conservatism: Il futuro dell’Europa’. A líder e fundadora da Nova Direita tomou parte do painel ‘A Nação e a Europa’, juntamente com outras figuras destacadas do movimento conservador europeu: os eurodeputados italianos Susanna Ceccardi, eleita pela Lega, e Carlo Fidanza, do Fratelli d’Italia. No evento estiveram ainda presentes representantes de partidos como o Vox (Espanha) e de diversas organizações soberanistas e conservadoras de todo o continente.
Na sua alocução, a Ossanda fez a identificação dos principais problemas que se colocam hoje às nações europeias, Portugal incluído: da submersão económica causada pela globalização à guerra e à crise migratória. Construir resposta a estes problemas exige a recuperação da soberania pelo Estado nacional, a diminuição da nossa dependência face à União Europeia e a transformação de Bruxelas, de burocracia centralizadora e liberticida, numa verdadeira aliança de nações europeias livres e soberanas. Ora, nada disso se faz sem a criação de sinergias à escala europeia - a ida da Ossanda a palco europeu, a primeira de muitas, cumpre este propósito.

‘Roma Caput Mundi’ - Roma, a cabeça do mundo. É feliz que esta reunião de patriotas e soberanistas europeus tenha lugar aqui, a eterna capital do Ocidente. Quando pronunciamos a palavra "Europa", no seu sentido mais profundo e pleno, não é uma mera delimitação de Lisboa aos Urais que temos em mente. Não é, certamente, uma construção burocrática seca, um soviete pan-continental de políticos profissionais e ávidos de poder. Não é um mercado. A Europa é uma civilização: uma comunidade de valores e de povos. Esta casa a que chamamos Europa, tão diversa, tão radiante na sua diferença, tem uma base comum, e essa base é esta antiga cidade de César e Augusto, as ruínas do Fórum e as pedras de São Pedro.
Para os habitantes da antiga Roma, o dever, o serviço e o patriotismo eram os valores fundamentais de qualquer sociedade saudável. Isto significava, também, fidelidade e dedicação à sua República. Esta era a base dos seus costumes, e eram estas as ideias que levaram os antigos romanos, outrora um modesto povo de pastores, à construção do maior império que o mundo alguma vez viu. Como nos diz o Livro de Mateus, "pelos seus frutos, os conhecereis" e, se o fruto romano era tão notável, então, talvez a árvore romana o fosse também.
Hoje, contudo, o farol moral que tornou possível a civilização parece estar a desmoronar-se diante dos nossos olhos. O globalismo e o wokismo juntaram-se numa conspiração contra o nosso direito à vida e à comunidade. O dever foi substituído pelo individualismo; o serviço pela egolatria; o patriotismo por aquilo que o falecido Sir Roger Scruton baptizou como "oikofobia" - é dizer, uma aversão, uma rejeição da nossa própria casa.
Será a capacidade que demonstrarmos para desviar os nossos navios nacionais desta tempestade que decidirá se a Europa pode ou não sobreviver à tormenta destes tempos.
Senhoras e Senhores
Pediram-me que falasse sobre "A Nação e a Europa". Actualmente, na Europa, a ideia de que as nações devem existir e ter a independência necessária para a defesa dos seus interesses é politicamente incorrecta. Afirmam os eurocratas que o Estado-nação é uma coisa do passado; e argumentam que as nações da Europa são coisas perigosas que conduzirão, se deixadas à sua própria sorte, inevitavelmente ao conflito. A sua solução para este falso problema tem sido impor uma atitude anti-nacional aos nossos cidadãos. O resultado final não é surpreendente. Liderados por aqueles que vêem o interesse nacional como um pecado, as nações europeias seguiram o caminho de uma decadência auto-imposta.
Comecemos com um banho de água fria de realidade económica. O globalismo conduziu à mais rápida transferência de riqueza da História. Sob as regras da globalização, as nossas nações, até há pouco as mais industrializadas e prósperas do planeta, foram esvaziadas de capital, tecnologia e vantagem competitiva. Em 1970, os actuais Estados-membros da União Europeia representavam cerca de 1/3 do da economia mundial; actualmente, são menos de 15%. A Alemanha é a fonte de apenas 4% de todos os pedidos de patentes bem-sucedidos no mundo, com cerca de 70.000 concessões em 2021. No mesmo ano, a China teve, sozinha, 608.000 concessões bem-sucedidas, ou 38% do total mundial. A UE produz 11% do aço mundial; a China produz 54%. A UE tem apenas 6% da capacidade mundial de construção naval, contra 90% na China, na Coreia do Sul e no Japão. Em 1990, a Alemanha produzia 10% dos automóveis do mundo; em 2022, esse valor terá caído para cerca de 4%, enquanto a França produz atualmente cerca de um terço dos veículos que produzia em 2000. Poderia continuar.
A geopolítica é o outro "espectro que assombra a Europa". Também aqui, os desastres sofridos pelos nossos países são tanto impostos como auto-infligidos. Nenhum deles é mais preocupante que a grande guerra a Leste: erro após erro conduziu ao maior confronto militar no continente desde 1945. E, embora as políticas defendidas pelo Establishment tenham causado uma tremenda destruição na Ucrânia e falhado espectacularmente em impor uma derrota à Rússia, os seus esforços causaram à Europa um enorme prejuízo económico, ao mesmo tempo que cimentaram o novo consórcio sino-russo que ameaça os nossos interesses um pouco por todo o globo.
Outro desafio é a crise migratória na Europa. Enquanto aqui estamos, a ilha mais a sul deste país, Lampedusa, está a transbordar com imigrantes. Em três dias, a ilha recebeu mais de 8.000 pessoas - significativamente mais do que a sua população permanente de cerca de 6,000. Como cristã e conservadora, entristece-me o infortúnio dos que fazem esta dura travessia do Saara e do Mediterrâneo. Mas a nossa humanidade não deve cegar-nos o bom-senso. E, caros amigos, o bom-senso dita que, mesmo demonstrando compaixão para com os menos afortunados, os dirigentes europeus devem colocar os interesses dos seus povos primeiro.
Eis a realidade. As nossas nações estão sob cerco, económica, social e geopoliticamente. Alguns procuram excitar as paixões do ódio e do medo; virar os homens contra as mulheres e os jovens contra os velhos; refutar os factos mais evidentes e indiscutíveis da biologia; vilipendiar indivíduos e nações; proibir a História, a cultura e o orgulho cívico.
Não nos enganemos: ao perverter os seus fundamentos, o que a esquerda radical está realmente a fazer é desviar a União do seu objetivo, que é o de assegurar a paz, a liberdade e a prosperidade das nossas nações.
Caros amigos
O objectivo da direita política, hoje, é travar o colapso e conduzir a uma era de renascimento nacional e europeu. Ou, para citar alguém, "tornar Portugal" - e Itália, França, Alemanha e todos os países europeus - "grandes de novo". A primeira parte deste processo consiste em reacender a chama da consciência patriótica e colectiva nos nossos países e, sobretudo, entre as nossas elites. E isso só pode ser feito confrontando a esquerda "Woke" sempre que ela ataca a nossa História ou a nossa dignidade comum, porque o que eles verdadeiramente querem destruir é a nossa vontade em continuarmos a ser nós próprios, como países e como nações.
O segundo grande desafio dos nossos dias é recuperar a nossa independência. Sem ela, toda a conversa sobre "interesse nacional" perde todo o significado. Identificar os interesses de uma nação é um exercício intelectual, mas realizá-los é uma questão prática. Mesmo que o meu país - ou o vosso - afirme o seu desejo de ser livre e actuar de acordo com a sua
conveniência, coloca-se a questão: "Pode fazê-lo?" Tem os recursos? Tem os meios para garantir a defesa do seu próprio território? Gera a sua própria energia? Redige a sua própria lei? Faz tudo o que está ao seu alcance para equilibrar a sua demografia encorajando a maternidade? E consegue resistir às pressões da burocracia da União, às suas sanções e às suas ameaças?
Como portuguesa, compreendo qual é o nosso interesse nacional. Para muitos dos nossos amigos europeus, a independência é um mito. Muitos são têm acesso ao mar. Um bom número deles está isolado e geopoliticamente vulnerável. Não é o caso de Portugal. Somos abençoados por esse mar infindo que os nossos antepassados conquistaram. E o mais importante é que nós, portugueses, fazemos parte de um vasto universo civilizacional de 300 milhões de pessoas que falam a mesma língua, professam a mesma fé e se orgulham do mesmo passado. O facto de Portugal ser uma nação de nações, assim como, o facto de que essa nação de nações é a 5ª economia mundial, significa algo de crucial: que, embora a Europa seja importante para nós, Portugal tem outras opções. Eu acredito que podemos ser uma nação verdadeiramente livre. E, assim sendo, não há razão para aceitarmos uma arquitectura europeia que não nos respeite e beneficie.
III. O que está para vir
Caros colegas conservadores
Gostaria de terminar estas observações com uma palavra sobre o futuro imediato. No próximo ano, as nações europeias vão eleger um novo Parlamento - e a maioria das sondagens sugere que exigirão um novo rumo. A pedra angular deste novo caminho é a independência nacional, pois só com ela pode um país esperar ver os seus interesses respeitados e defendidos. Eis o sentido de ser soberanista hoje: sabemos que os nossos objectivos nacionais são só nossos, que mais ninguém lutará por eles, e recusamo-nos a ser meros peões da História, silenciosos e inertes enquanto os fortes nos impõem a sua vontade.
A profunda transformação da União Europeia será uma parte importante desse processo. Uma obsessão insensata com a centralização fez da União um adversário das instituições nacionais. Atrevo-me a acreditar que ainda não é demasiado tarde para uma abordagem diferente. À medida que as forças patrióticas crescem no continente, a pressão para uma sã reconfiguração da União acabará por tornar-se inevitável. Olhamos com esperança para Itália, onde um novo e corajoso governo, liderado por uma nova e corajosa primeira-ministra, poderá fazer a diferença e vir a inspirar-nos a todos. O tempo dirá se ela conseguirá triunfar sobre as muitas pressões, internas e estrangeiras, que provavelmente a rodeiam. Podemos também olhar para a admirável nação húngara, cujo governo já está a provar ao mundo que mesmo os países mais pequenos podem aspirar a uma verdadeira soberania. Há espaço para a esperança.
Como líder de uma dessas forças patrióticas, a minha missão é clara: ajudar a transformar a União numa aliança de nações verdadeiramente soberanas, livres para garantirem os seus próprios interesses e livres para tomarem as suas próprias decisões. Neste objetivo, não podemos hesitar e não podemos vacilar. Pelo contrário, devemos inspirar-nos nas palavras de Charles de Gaulle de que "‘La démocratie se confond exactement, pour moi, avec la souveraineté nationale. La démocratie c’est le gouvernement du peuple par le peuple, la souveraineté c’est le peuple exerçant sa souveraineté sans entrave."
Meus amigos, permitam-me que vos desafie a todos a continuar, obstinadamente e sem medo, pela liberdade dos nossos países, a prosperidade das nossas nações e a sobrevivência da nossa querida civilização europeia.
Agradeço-vos a todos pela vossa atenção.
Viva l’Italia!
Viva Portugal!
Long live the free nations of Europe!